Editorial

Olhar para as pessoas

Sair de um trauma coletivo é bastante complicado. Vamos passar meses, anos, décadas remoendo este maio de 2024. São incontáveis os problemas a serem lidados daqui para frente. Se há o alívio de não termos perdido vidas, nem de Pelotas ter alagado completamente, há também as dúvidas sobre o futuro. Conforme as reportagens desta edição conjunta, são pelo menos 15 mil imóveis atingidos, com muita gente tendo dúvidas sobre o futuro e iniciando uma tentativa de retomada.

O processo de reconstrução vai ser longo e precisa considerar, antes de tudo, o fator humano. Ao longo da semana, trouxemos reportagens nas edições digitais do DP, mostrando o retorno às casas por parte dos moradores do Laranjal. Há relatos de quem quer logo seguir em frente, de quem não sabe se terá a segurança para seguir em suas casas, de quem quer ir embora do bairro para nunca mais voltar. É doloroso ver seu lar violado pela força da natureza, pela insegurança de deixar tudo para trás, pelo trauma de não saber o que vai ser daqui para frente.

Se em 1941 a enchente foi maior em volume de área atingida, agora foi de pessoas afetadas, já que habitamos áreas que antes eram de banhado. Isso é um ponto que deverá ser levado em consideração. Em entrevista ao DP na edição de quarta-feira, a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) inclusive considera a possibilidade de realocar parte das comunidades, como Pontal da Barra, parte da Z-3, às margens da Lagoa dos Patos, e da zona do Quadrado, banhado pelo São Gonçalo. São áreas sem grandes possibilidades de criação de contenções. Portanto, há a necessidade de repensá-las, de fato.

Mas, novamente, a ideia é pensar em pessoas. Em preservação da vida e da dignidade. Por isso, o exemplo de lidar com as enchentes sob total orientação científica deve ser levado em continuidade nos próximos passos. Pelotas terá nova gestão municipal. A UFPel também mudará a reitoria. Mas é importante que os eleitos levem em consideração a possibilidade de usar todo o capital científico presente na cidade e na região, com Furg e UCPel também atuando em conjunto para reorganizar as estruturas.

Há muito trabalho pela frente e é ano eleitoral, não dá para esquecer disso. As enchentes deverão pautar boa parte do debate político, então, que seja feito de forma a agregar propostas que preservem as pessoas e a cidade para que o maio de 2024 nunca mais se repita.


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